Devido às condições atmosféricas esta volta apenas se realizou no final de Abril o que levou a que o treino em altitude não tivesse um efeito significativo para o Portalegre que se avizinhava.
Desta vez o programa de festas tinha 2 opções:
- subida Covilhã-Torre;
- subida Covilhã-Piornos, descida para Manteigas e subida Manteigas-Torre.
Obviamente que os membros do BTZ Mação presentes optaram pela 2ª opção, ou não estivéssemos nós habituados a subir os Bandos.
Encontrar o local de partida foi a segunda dificuldade do dia (a primeira foi como habitual, cumprir horários), dado que o Daniel Brites tinha contratado a utilização dos balneários de um clube local.
Para além de ser uma coisa com prestígio (subir a Serra com banho à espera), o banho de água quente acabou por ser de uma utilidade brutal (como mais à frente se verá).
Apesar de ser feita em trilho negro, pois não conhecemos bem aquela zona, as subidas da Serra da Estrela por alcatrão têm o aliciante de estarmos a pedalar em locais que habitualmente vemos nas transmissões televisivas da Volta a Portugal.
Se os gajos com as bikes de estrada conseguem subir aquilo, também nós seremos capazes de fazer, se bem que a uma velocidade (ou várias) inferior.
O início da volta foi calmo em jeito de aquecimento e de forma a fazer a ligação entre o nosso “base camp” e o centro da Covilhã.
A fase inicial da subida é considerada como sendo a mais dura pela forte inclinação de alguns troços, nomeadamente à saída da Covilhã e um pouco antes do antigo Sanatório. Advertido desse facto optei por começar devagar, sem entrar em loucuras, seguindo com o Velhinho e o Miguel, o que permitiu contemplar a magnífica paisagem e tirar algumas fotos.
O Chefe de Fila é que entrou em acção motivadíssimo (devia pensar que estava nos Bandos), saindo disparado ainda no centro da Covilhã. Só o voltaria a ver em Manteigas.
O Sérgio e o José Carlos ainda pedalaram um pouco com os mortais, mas depois meteram o ritmo de treino e também só os voltámos a ver em Manteigas.
Os primeiros km’s são de facto os que têm maior inclinação, mas o facto de seguirmos sempre em curva e contra-curva faz com que não tenhamos bem a noção do ganho de altitude que vamos tendo (se exceptuarmos as irritantes placas que indicam a altitude). Acho que só quando passamos no antigo Sanatório é que começamos a ter noção do que já está para trás e do que ainda falta subir.
Depois do antigo Sanatório o terreno torna-se um pouco menos inclinado permitindo alguma recuperação, mas como o ritmo aumenta, acabamos por ir sempre em esforço.
Nesta altura ainda conseguimos ver o grupo da frente ao longe, quase a chegar às Penhas da Saúde, enquanto eu e o Velhinho seguíamos tranquilamente na companhia do Miguel, embora ninguém falasse grande coisa, pois era necessário poupar o fôlego.
A aproximação às Penhas da Saúde marcou novamente o aumento da dificuldade do percurso, dado que as inclinações voltam a ser mais significativas com o consequente ganho de altitude. Nas Penhas da Saúde (parece que estamos nos Alpes Suíços, só falta a Heidi e os São Bernardos) estamos sensivelmente a 1.500 metros de altitude, que representa mais ou menos metade do trabalho feito.
Os 3 km’s entre Penhas da Saúde e Piornos (Centro de Limpeza de Neve) parecem ser intermináveis.
Chegados a Piornos, e de forma a preparar a descida para Manteigas parámos, verificando que aquela altitude o frio já se começava a fazer sentir, isto em plena Primavera.
O Miguel devido ao pouco equipamento que trazia resolveu não parar de forma a não arrefecer. Eu e o Velhinho colocámos as revistas (do social) por baixo dos jerseys. Foi a altura em que algumas daquelas miúdas das revistas andaram mais perto do meu coração……
O Marreta em Piornos
A descida para Manteigas é relativamente tranquila, pois é quase sempre em recta. No entanto o facto de a estrada ser estreita faz com que se tenha de ter bastante cuidado, pois há pessoal que vem fora de mão em sentido contrário e devido às ultrapassagens a carros (por estranho que pareça).
Aliás o único despique que tive nesta volta toda foi com um carro nesta descida, dado que o condutor parecia ficar chateado por um gajo de bike de btt conseguir descer mais rápido que ele, confortavelmente sentado num automóvel.
Graças a um autocarro que bloqueou a passagem da viatura em causa cheguei a Manteigas primeiro: Canas 1 – Citröen qualquer coisa 0.
Em Manteigas, estavam à nossa espera o José Carlos, o Sérgio e o Chefe de Fila, aproveitando para comer qualquer coisa e descansar um pouco (não que precisassem).
Nesta altura já se fazia sentir um vento um bocado forte, que levou uma das luvas de Inverno do Chefe de Fila para um balsedo, que era inalcançável. Quando ele já começava a ficar passado com a perda da luva, o José Carlos viu um agricultor local que gentilmente nos cedeu uma foice e uma cana, que foram usadas de forma habilidosa para resgatar a luva.
Talvez contente por isso, o Chefe de Fila voltou a sair disparado Serra acima, levando o José Carlos e o Sérgio. Uma vez mais segui com o companheiro de pedaladas Velhinho.
A subida de Manteigas não é muito difícil em termos físicos, dado que não tem uma inclinação muito significativa. No entanto em termos psicológicos tem qualquer coisa, pois são muitos km’s sempre a ver o final, sem conseguir chegar lá rapidamente. Para compensar a beleza do Vale Glaciar é brutal (talvez dos locais mais bonitos onde estive), com as cascatas e o Rio Zêzere que ali nasce.
O Vale Glaciar de Manteigas
Já perto da 2ª passagem por Piornos, começaram a cair uns pingos de chuva, o que me fez pensar que as coisas poderiam complicar-se daí para a frente.
Está quase.....
A Nave de Santo António marca o local a partir do qual não existe mais descanso para as pernas, pois a partir dali é sempre a subir para a Torre.
Não muito depois de iniciarmos a escalada final começaram a cair uns flocos de neve, felizmente em pouca quantidade, mas era um alerta para as condições atmosféricas que nos esperavam no topo.
Esta parte da subida acaba por ser complicada pelo desgaste acumulado, a que se juntou o frio (apesar de estarmos bem agasalhados).
A uns km’s da Torre passaram por nós os 3 da frente, já a descer a grande velocidade.
Está mesmo quase, quase.....
A aproximação à Torre é espectacular, porque marca a chegada ao objectivo do dia, o ponto mais alto de Portugal Continental, e tem aquela coisa mítica do ciclismo da etapa da Torre e naquela altura ainda se conseguia ver.
Quando chegamos à Torre ainda estavam bastantes pessoas a fazer ski na “pista de neve” que lá se pode encontrar.
Após uma pequena paragem para descansar as pernas, eu e o Velhinho iniciámos a descida, até porque o frio não permitia ficar parado muito tempo. O início da descida foi marcado pelo agravamento das condições atmosféricas, dado que em pouco tempo ficou um nevoeiro cerrado e começou a nevar com mais alguma intensidade.
Esta deve ter sido a descida que mais custou em muitos anos de bike, pois o frio fazia com que as extremidades do corpo, apesar de bem protegidas, ficassem dormentes. Conseguir travar, nalgumas partes da descida é uma condição essencial para não voarmos por aquelas ravinas abaixo.
Já perto da Nave de Santo António, perdi o contacto visual com o Velhinho que seguia ligeiramente atrás, pois entretanto parara para tentar aquecer as mãos. Durante essa paragem ainda vi as coisas mal paradas, pois ainda tive algumas tonturas.
Felizmente o Velhinho lá retomou a descida, voltando a aparecer no radar, pois não estava com vontade de voltar a subir para ir à procura dele (nem sei se seria capaz disso).
A parte da descida entre Piornos e o antigo Sanatório foi porreira, pois deu para andar bastante depressa (acima dos 70 km’s/h), já que o frio não se fazia sentir com tanta intensidade e existem algumas rectas com bom piso.
A descida após o antigo Sanatório pode ser considerada como chata, dado que é uma série de cotovelos, onde se gasta as pastilhas dos travões, sem se poder andar realmente depressa e sem poder contemplar a paisagem, dado que nos arriscamos a sair disparados da estrada ou ficarmos espetados nalgum carro.
Fomos os últimos a chegar ao nosso “base camp” na Covilhã, estando já quase toda a gente de banho tomado. Digo quase, pois o Velhinho é que tinha levado a chave do BTZMobil, fazendo com que o Chefe de Fila tivesse ficado à seca durante um bom bocado. Para a próxima é escusado ir tão depressa…
A ideia de ter um balneário após a aventura foi bastante boa (nem parece do Presidente Brites), pois o banho de água a ferver serviu para restabelecer a circulação sanguínea e recuperar das temperaturas negativas a que estivemos sujeitos.
Depois do banho seguiu-se o tão ansiado repasto no restaurante Porta Chaves, dado que estávamos todos com uma fome do caraças e onde pudemos compartilhar algumas das histórias daquele dia.
Em resumo foi uma etapa inesquecível do BTZ Mação, dado que foi a primeira vez que fizemos a mítica subida da Serra da Estrela em estrada.
Mas penso que falo em nome dos atletas que não será a última, dado que ficou prometido ao Almeida fazer a Estrela na Estrela (com o brinde adicional de mais uma subida, que ele sabe bem qual é).
Gostava de agradecer o convite do José Carlos e o trabalho de logística que ele e o Daniel Brites tiveram para este dia e aos restantes participantes, que demonstraram que subir a Serra da Estrela não é algo acessível a todos, mas que todos podem fazer caso se comprometam com esse objectivo.
2 comentários:
Olá :)
O Blogue dos Manteigas passou por aqui ;)
Parabéns pelas fotos :)
Um abraço,
Visitem: http://bloteigas.blogspot.com/
Grande Canas!
Mais uma reportagem que só tu sabes descrever!!!!
Já agora aproveito para dizer que adorei a experiência e que o BTZ voltará certamente... um lugar fantástico com subidas maravilhosas!
Obrigado BTT Trilhos da Lezíria!
Enviar um comentário