No início de Junho o Daniel Brites desafiou-me para fazermos uma aventura de 3 dias de btt à antiga. Após alguma deliberação o destino escolhido foi a Lousã, pelo potencial em termos de trilhos e pelo facto de ser relativamente perto.
1º Dia – Trevim
O programa para o 1º dia correspondia à 2ª etapa do
Geo-Raid da Lousã, pelo que o nível de dificuldade seria elevado.
Após a preparação do equipamento arrancámos em direcção ao
Alto de Trevim com um tempo meio enfarruscado, o que facilitaria a nossa
tarefa. Assim pensava eu.
Felizmente o início da subida era em alcatrão permitindo
fazer o aquecimento, mas quando entrámos no trilho verifiquei que o terreno
estava um pouco pesado, pelo que teria de seguir tranquilamente Serra acima.
A subida não tinha rampas muito inclinadas, pelo que era
possível seguir num ritmo certo, se bem que o meu fosse um pouco mais lento que
o do Brites, que periodicamente esperava por mim. À medida que a altitude ia
aumentando a vegetação também se ia alterando, dado que passámos de um zona de
arbustos para floresta cerrada, que era um cenário espectacular para pedalar, a
fazer-me lembrar a subida para a Santinha na Serra da Estrela.
Uma fonte em plena subida
O nevoeiro que se fazia sentir a partir de determinada
altura e altitude facilitou-me a vida, pois não permitia que visse o que ainda
faltava subir. Após cerca de 15 kms de subida, a única questão que me
preocupava era se ainda faltava subir muito.
A revisão da táctica para a parte final da subida
Quando nos aproximamos da zona das eólicas fiquei mais
descansado pois normalmente estas são colocadas nas cumeadas das Serras, mas
neste caso isso não se verificou, pois tivemos ainda de fazer umas duas rampas
bem inclinadas e com um piso cheio de gravilha em que uma pedalada era para
andar e outra para manter o equilíbrio.
20 km’s depois e perto de 1.000 metros de acumulado depois
passámos no Castelo de Trevim, mas com o nevoeiro não se via nada……
Começamos a descer em direcção a Coentral com um cenário espectacular, pois estávamos mesmo por baixo das nuvens. Normalmente nestas voltas existem sempre invenções, e para passarmos na aldeia para ver se comíamos alguma coisa, fizemos um desvio.
A prova de que estivemos lá, apesar de pouco ou nada conseguirmos ver
Começamos a descer em direcção a Coentral com um cenário espectacular, pois estávamos mesmo por baixo das nuvens. Normalmente nestas voltas existem sempre invenções, e para passarmos na aldeia para ver se comíamos alguma coisa, fizemos um desvio.
Na descida para Coentral
Infelizmente na aldeia o único café aberto não tinha comida, pelo que nos tivemos de contentar com uma coca-cola e voltámos ao trabalho. O trilho programado infelizmente não era transitável, pelo que tivemos de efectuar um desvio, que nos custou perto de 15 km’s a mais do que o inicialmente previsto.
Por outro lado o desvio permitiu-nos conhecer mais algumas
aldeias, todas elas praticamente abandonadas e sem local onde pudéssemos comer.
A hidratação é que não seria um problema, mas optámos por não parar, pois
cerveja e btt nem sempre combinam.
Depois de passarmos por Amioso Cimeiro iniciámos a escalada
para Santo António das Neves. Esta foi a parte mais complicada da volta, pois a
subida tinha algumas rampas com uma inclinação bastante pronunciada e com um
piso manhoso, cheio de pedra de solta que dificultava ainda mais a progressão.
Depois de algum pedestre, finalmente chegámos ao final da subida, pelo que
parámos para comer, descansar e desfrutar da paisagem absolutamente
espectacular.
No Alto da Serra
No caminho para Santo António das Neves passámos no mais
estranho aeródromo que conheço, no alto de uma Serra. Depois descemos
rapidamente em estradões que permitiam rodar bem rápido para a zona de Aigra
Velha, com um cenário magnífico e depois para Aigra Nova.
Aigra Nova apesar de ser uma pequena aldeia, tem uma loja
associada às Aldeias do Xisto, das quais faz parte. Assim aproveitámos para
comer qualquer coisa e recuperar para o resto da descida que teríamos de fazer até
ao Rio Ceira. Seguimos em altíssima
velocidade, até aquele que para mim foi o local mais bonito do dia, a passagem
do Rio Ceira, com um cenário magnífico.
Seguimos depois em direcção a Serpins, sempre paralelos ao
Rio, com alguns trilhos muito porreiros, nomeadamente um singletrack
espectacular, com bastante fluidez e onde dava para acelerar um pouco.
Em Serpins seguimos por alcatrão para a Lousã…..pois já
tínhamos cerca de 100 km’s nas pernas.
2º Dia – Coja – Piodão – Coja
Ficámos alojados em Arganil, pois o 2º dia prometia mais um empeno dos grandes, pois o Brites queria passar no Piódão.
A volta programada tinha o seu início e final em Coja, de
forma a ficarmos abaixo dos 100 km’s. Arrancámos novamente em alcatrão, com o
Rio Alva como cenário, em direcção a Barril de Alva, para podermos fazer o
aquecimento.
Grande desilusão, apenas sai água!
Saímos do alcatrão na zona de Vila Cova de Alva e seguimos
para a zona de Anceriz, com alguns enganos pelo caminho. Apesar das aldeias
estarem muitas delas abandonadas, alguns velhotes ainda vão para os campos
tratar da sua agricultura, pelo que pedimos direcções a alguns deles. Após umas
rampas bem inclinadas aproximámo-nos de Avô, que é uma aldeia simpática nas
margens do Rio Alva e que significou uma descida a alta velocidade.
Vista panorâmica de Avô
Em Avô, junto ao Rio Alva
A volta de btt verdadeiramente começava com a passagem por
Avô, pois metemos por uma calçada romana em direcção a Aldeia das Dez. Para
além da dificuldade técnica que a calçada nos colocava, existiam algumas rampas
que me fizeram aproveitar o facto de estar num percurso de pequena rota
pedestre. Quando passámos por Aldeia das Dez o calor começava a apertar, pelo
que fizemos uma paragem para comer e beber qualquer coisa num dos cafés da
aldeia.
Todas as desculpas serviam para parar nesta calçada
Durante alguns km’s seguimos por alcatrão, mas sempre a
subir, passando por Goulinho e Vale de Maceira. Voltámos a entrar no trilho no
Santuário da Senhora das Preces. Contudo ao contrário dos pedidos, o trilho
continuava a ter subidas e algumas delas bem inclinadas.
A subida para a Senhora das Preces
Finalmente após alguns km’s começámos a rodar a meia encosta
da Serra do Açor, pelo que era possível apreciar o magnífico cenário em que
pedalávamos, com a Serra da Estrela como pano de fundo.
A aproximação a Piódão foi por isso relativamente rápida, dado que parámos algumas vezes para tirar fotos.
Em plena Serra do Açor
Em plena Serra do Açor II
Ao longe a Serra da Estrela
A aproximação a Piódão foi por isso relativamente rápida, dado que parámos algumas vezes para tirar fotos.
No Piódão fizemos uma paragem mais prolongada para repor
forças e apreciar a aldeia, que está impecavelmente recuperada, fazendo parte
quer das Aldeias do Xisto, quer das Aldeias Históricas, dois roteiros turísticos
do interior do nosso país.
Piódão
A tradicional paragem para abastecimento
Em pleno Piódão e antes de entrar no singletrack do dia
Singletrack...........
Um dia normal no escritório
Brites numa parte mais técnica do singletrack
Na parte final do Singletrack, sem saber se devíamos olhar para o trilho ou para a paisagem
Arrancámos depois em direcção a Foz da Égua, num singletrack
simplesmente espectacular, com algumas zonas técnicas e uma paisagem
espectacular. Depois de voltar novamente na direcção do Piódão, com mais uma
subida medonha, apanhámos o alcatrão, que nos levaria a passar pela estalagem
do INATEL e a mais um empeno dos grandes. A subida a seguir à estalagem foi
terrível, mesmo em alcatrão.
Felizmente a seguir veio uma descida espectacular que nos
levaria até Relva Velha e a passar na Mata da Margaraça, que é também um local
interessante, pois parece ser dos poucos locais que conserva o tipo de floresta
original desta zona.
Mata da Margaraça
Passámos em mais umas aldeias, Enxudro e Sardal com o
terreno quase sempre a descer e parámos em Esculpa para comer um gelado,
apreciar as “nativas” e preparar a descida final para Coja.
Depois de terminada a volta fomos de carro, que as forças já
eram poucas e os 90 km’s tinham feito mossa, até à Fraga da Pena, pois é um
local bem lindíssimo, um Pego da Rainha, mas com uma queda de água bastante
mais alta.
Fraga da Pena
Fraga da Pena II
3º Dia – Lousã – Aldeia do Eremita – Lousã
No último dia voltámos à Lousã para fazer uma espécie de roteiro das Aldeias de Xisto. Este era o dia em que iríamos fazer menor distância e desnível acumulado. Arrancámos uma vez mais em alcatrão, mas sem aquecimento, pois a passagem por Vale Domingos e Vale de Nogueira já tinha umas rampas bem inclinadas.
Depois de entrarmos no trilho seguimos sempre a subir de
forma mais suave até à zona de Gondramaz e com algumas zonas de floresta
simplesmente espectacular.
Ao fundo Gondramaz
A subida continuava até uma zona de eólicas, pelo que de
subida estávamos tratados, embora isso não representasse o final das
dificuldades.
Já no final da subida do dia
Dantes isto era um caminho
Logo de seguida alguns dos trilhos que tínhamos programado
estavam intransitáveis devido à vegetação. Isso atrasou bastante a progressão,
mas como compensação pudemos passar num ou outro local espectacular e ver
alguns veados em estado selvagem.
Para rematar esta parte da volta passamos numa casa
abandonada que parecia tirada de um filme de terror!
Assustador!!!!
Como a fome apertava, seguimos por alcatrão para a aldeia de
Candal, onde aproveitámos para comer, descansar um pouco e definir o final da
volta. Esta aldeia está também recuperada e tem uma espécia de mercearia que
procura retratar as antigas mercearias das aldeias. Foi o meu momento recordar
é viver do dia.
Vista panorâmica de Candal
A mercearia à antiga
Uma vez mais, a paragem do dia para abastecer e decidir para onde seguir
A opção que escolhemos passava por voltar a subir em
alcatrão, falhando um singletrack espectacular a meia encosta, para passarmos
em mais algumas aldeias do Xisto. Numa destas aldeias ficámos a conhecer um
verdadeiro eremita que estava bastante descontente com o facto de termos
aproveitado uma pequena descida para entrar no largo principal da aldeia de
bike, pois podíamos partir as lajes de xisto. Ele bastante irritado dizia ao
Brites que já tinha substituído algumas lajes de xisto devido a pessoal que
tinha feito o mesmo. O Brites ainda tentou chamar o eremita ao planeta Terra……….mas
acabámos por perceber que não valia a pena. Já o eremita resolveu a discussão do
lado dele com o recurso a uma cerveja!
O Eremita (espero não ser processado por abuso do direito de imagem) e o Brites: cada um a seguir o seu caminho
Entrada da aldeia de Talasnal
Na aldeia
Na aldeia II
Seguimos depois para o Talasnal e Casal Novo. São ambas
aldeias com alguma dimensão, muito bem recuperadas e mas que pareciam aldeias
fantasma, pois não se via ninguém na rua (nem eremitas).
A volta terminou com a descida vertiginosa para a Lousã
Estes 3 dias de puro btt (e algum passeio pedestre) contribuíram
para que voltasse às crónicas das voltas de bike. Não que nos último ano não
tenha feito algumas voltas que mereciam um relato…..contudo estes dias fizeram-me
recordar algumas das razões me dediquei ao BTT.
Só posso deixar um agradecimento ao Brites pelo desafio que
lançou, pois é sempre melhor fazer estas aventuras de descoberta na companhia
de amigos.