A etapa rainha da Grande Rota das Aldeias Históricas
No dia anterior esta etapa estava já presente no subconsciente.
A razão era muito simples, nunca tinha feito um acumulado tão elevado numa volta de btt, nem tinha subido a Serra da Estrela de bike.
A viagem de Celorico de Beira para Linhares serviu para quebrar o nervosismo e depois dos últimos preparativos, iniciámos a jornada, que prometia ser longa.
Felizmente não chovia, embora lá em cima na Serra, as nuvens prometessem qualquer coisa.
Os primeiros 3 km’s foram a descer, não pela calçada do dia anterior, mas em estradão e em direcção à zona da Serra da Estrela.
A longa ascensão começou de forma relativamente suave, em estradão, até às antigas minas de volfrâmio dos Azibrais, onde já levávamos cerca de 4 km’s de subida.
Vista sobre a zona de Linhares da Beira
A seguir à zona das minas, tivemos algumas rampas mais inclinadas e com um piso mais complicado, com alguma pedra e areia solta.
Pedro Pedrosa e Sérgio na ascensão à Serra da Estrela
Uma pequena pausa para foto, com o jersey do BTZ a brilhar
A paisagem que se podia desfrutar à medida que se ia subindo era muito bonita, embora para o lado da Serra da Estrela as nuvens limitassem bastante o horizonte.
Depois de cerca de 13 km’s de subida, entrámos num pequeno planalto sobre a aldeia do Folgosinho, onde pudemos recuperar o fôlego.
Vista sobre a aldeia de Folgosinho
Foi uma zona muito porreira, pois não íamos a subir, e ainda pedalámos em zonas bastante arborizadas (com pinheiros e carvalhos).
No entanto, ainda faltava alcançar a linha de cumeada da Santinha, pelo que ainda tínhamos de subir mais cerca de 300 metros de desnível, em cerca de 3 km’s.
A Santinha ficava lá em cima, para ter a noção do que faltava subir
Esta última secção da subida era brutal, pois iniciávamos a subida em estradão rodeado de árvores, com uma inclinação apreciável e com um piso muito técnico, com regos provocados pela água e alguma pedra e terra solta.
A subida final para a Santinha
À medida que nos aproximávamos dos 1.600 metros de altitude, a vegetação ia sendo cada vez mais escassa e o tempo ia piorando, dado fazia um vento bastante forte.
Mais um aspecto da subida à Santinha
Numa das últimas curvas, fizemos uma pequena pausa para agrupar o pelotão de 4 elementos, pois a partir dali não havia qualquer árvore ou vegetação que nos protegesse.
Esse troço final foi bastante difícil de vencer, principalmente pelo vento que se fazia sentir. Por isso mesmo a satisfação foi maior, quando alcançámos a zona da Santinha (a fazer lembrar a zona do Posto de Vigia do Bando de Santos).
O Ricardo chegando ao alto da Santinha
A vista no alto da Santinha, limitada pelas núvens
Depois de quase 17km’s a subir entrámos numa parte espectacular da etapa, pois rolámos numa cumeada de aspecto inóspito, com um vento forte e onde efectuámos algumas descidas e subidas muito porreiras (estas últimas por serem mais curtas).
O início da longa cumeada da Santinha
Na zona da cumeada da Santinha
Mais uma descida na cumeada da Santinha
O almoço já não estava longe, na barragem do Vale do Rossim, que fica perto da estrada de Manteigas para Seia e Gouveia.
A Barragem do Rossim
Perto do final do almoço, que desta vez foi reforçadíssimo e cortesia da A2Z Adventures, começou a chover, aumentando progressivamente de intensidade.
O percurso nesta fase decorreu em zonas mais ou menos planas e com muita brita solta, o que por vezes dificultava a vida, pois a aderência não era a melhor.
A caminho da 2ª barragem do dia
Vista para o Vale do Sabugueiro
A 2ª barragem, já sob chuva forte e vento
À passagem por mais uma barragem, começou a chover de forma bastante intensa, o que associado ao vento e nevoeiro tornavam as condições atmosféricas muito difíceis para pedalar.
Depois da barragem efectuámos um pequeno pedestre, dado que a vegetação rasteira não permitia pedalar e entrámos novamente num estradão ao longo de uma levada de água que nos levaria até à estrada de Seia para a Torre.
Vista sobre o vale do Sabugueiro
Nessa zona era possível vislumbrar a aldeia do Sabugueiro, que ficava numa encosta da Serra do outro lado de um vale brutal. Pena foi que o tempo não permitisse desfrutar da paisagem.
A aldeia de Sabugueiro ao fundo
Com a chegada à estrada Seia/Torre iniciámos a subida para a Lagoa Comprida em alcatrão. A chuva era agora torrencial, o nevoeiro era mais fechado e o vento continuava fortíssimo. Foi com esse cocktail atmosférico que enfrentámos a subida, sendo que após uma pequena paragem para tirar uma foto, fiquei sozinho, pois o Sérgio e o Pedro Pedrosa continuaram e o Ricardo vinha mais atrás.
Na subida para a Lagoa Comprida, parece os Lagos de Covadonga
Foi surreal alcançar a Lagoa Comprida nessas condições.
Depois de uma pequena pausa, junto da carrinha da A2Z Adventures, eu e o Sérgio iniciámos a descida para Vide, em alcatrão, enquanto que o Pedro Pedrosa esperou pelo Ricardo.
A última foto do dia, já sob a intempérie
Apesar de ser em grande parte em alcatrão, foi das descidas mais complicadas que fiz, pois o vento e a chuva quase nos obrigavam a descer de olhos fechados, em troços com cerca de 11% a 12% de inclinação.
No final da parte em alcatrão, já tremia de frio, e se a descida continuasse durante muito mais tempo, acho que entrava em hipotermia.
Deve ter sido uma das poucas vezes em que gostei de deixar de descer para poder recomeçar a pedalar.
Voltámos a entrar em trilho, em zona de pinhal, quase sempre a descer, mas já com algumas zonas mais planas onde era necessário dar ao pedal.
Nesta fase de descida para Vide, efectuámos duas descidas espectaculares. Espectaculares, porque entretanto tinha deixado de chover e o nevoeiro tinha começado a levantar, deixando ver um pouco mais da paisagem, pois a zona de transição da Serra da Estrela para a Serra do Açor é brutal, com uma envolvente de pinhal (a fazer lembrar o antigamente de Mação).
O piso era com muita pedra, e o xisto apesar de molhado não estava muito escorregadio, o que permitia descer com velocidade, permitindo desfrutar ao máximo.
Depois dessas duas descidas chegámos a Vide, onde efectuámos uma paragem para abastecimento.
O Pedro Pedrosa disse então, que até ao final da etapa, cerca de 15 km’s, não teríamos a hipótese de ter acesso à carrinha, e que faltava subir a “parede”, o que em termos de acumulado representava cerca de 700 metros de desnível acumulado.
Um Homem dos Bandos não se nega a este tipo de desafios, pelo que apenas questionei onde é que estava essa “parede”, para a gente a subir.
O grupo reduzido agora a três unidades, seguiu caminho, iniciando a subida final de forma bastante suave, com o Sérgio à frente.
Quando já me perguntava onde estaria a temível “parede”, começo a vislumbrar, no meio da réstia do nevoeiro um corta-fogo, com uma inclinação brutal.
Quando eu e o Pedro Pedrosa chegámos ao início do corta-fogo, andava o Sérgio às voltinhas, e a dizer que andava a ver se o GPS indicava que o caminho correcto seria outro que não o do corta-fogo.
Ao fim de meia dúzia de metros desistimos, pois a inclinação era grande e a aderência não era a melhor, com alguma pedra solta e molhada.
O Pedro Pedrosa ainda conseguiu subir grande parte da subida na bike, cantando, para aumentar o moral das tropas, sendo que eu e o Sérgio lá seguimos em pedestre, mas sempre sem desistir.
Quanto à subida em si, o único comentário que faço é de que equivale a três subidas do presunto do Bando de Codes em termos de distância.
A inclinação é relativamente semelhante, e o piso tem maior aderência, mas a distância é o factor crítico. Ao que consta, no ano passado o campeão nacional de ORI-BTT conseguiu subir quase toda a subida montado, que é um feito único garanto-vos.
Depois da parte mais inclinada, já conseguimos seguir nas bikes, sendo que os últimos km’s foram já em descida ligeira, para a estalagem do INATEL do Piódão, onde pudemos vislumbrar algumas aldeias perdidas nos vales daquela região.
O Piódão é uma aldeia histórica diferente de todas as outras, pois não se situa no topo de um monte ou serra, fica numa zona onde predomina o xisto, em vez do granito.
No entanto, é uma aldeia espectacular, perdida num vale da Serra do Açor.
A visão do Piódão representou o sentido de missão cumprida, naquela que foi a etapa de btt mais difícil e complicada que fiz na vida.
Tive apenas pena de as condições atmosféricas não terem permitido desfrutar inteiramente das paisagens desta etapa, embora a tenham tornado mais épica.
Assim, gostava de lançar o desafio a todos os membros do BTZ e amigos para que para o ano, seja feita uma repetição da etapa, caso as condições atmosféricas sejam propícias a isso.
Penso que a partir desta data, qualquer outra volta de btt que faça, terá sempre uma dificuldade relativa, quando comparada com esta.
E também terei sempre uma perspectiva diferente sobre a rapaziada que anda por aí a afirmar que: “ah e tal, fazemos voltas muito duras e rijas…”.
Momento do dia:
Na descida da Lagoa Comprida para Vide, no meio de um vendaval, o Pedro Pedrosa resolve seguir por um trilho, abandonando a descida em alcatrão.
No início desse estradão estava um carro parado, com vidros embaciados, e uma grande confusão de pernas. O amor é lindo...
2 comentários:
Uma etapa digna de um homem do BTZ...!
Temos que agendar essa etapa para Abril.
Se o "Capitão" lança o desafio e o "Chefe de fila" manda agendar para Abril .. o pelotão tem de dizer presente.
VAMOS LÁ VER, E FAZER ESSA ETAPA...
João.Almeida
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